domingo, 29 de setembro de 2019

Oração - São Tomás de Aquino


Concedei-me, ó Deus onipotente e misericordioso, ardentemente desejar, prudentemente descobrir, verazmente conhecer e perfeitamente realizar o que for do vosso agrado.
Para louvor e glória do vosso nome, ordenai meu estado de vida e dai-me saber, poder e querer o que me pedis que faça. E dai-me levá-lo a cabo como convém à salvação de minha alma.
Que o meu caminho até vós seja reto e seguro. Que eu não sucumba na prosperidade nem na adversidade, a fim de não me ensoberbecer na primeira nem desesperar na segunda. Que na fortuna eu vos renda graças e na dificuldade mantenha a paciência. Que eu de nada me alegre ou entristeça senão do que me leve a vós ou afaste de vós. Que a ninguém deseje agradar nem tema aborrecer senão somente a vós.
Dai-me tudo fazer com caridade e o que não diz respeito ao vosso culto, reputá-lo como morto. Dai-me praticar minhas ações, não por costume, mas referindo-as a vós com devoção.
Que por vós eu não dê valor às coisas transitórias, e me seja caro tudo o que vos diz respeito. Que me compraza, mais do que tudo, todo trabalho que for para vós e me aborreça todo descanso que não seja em vós.
Dai-me, dulcíssimo Senhor, dirigir-vos meu coração frequente e ferventemente e, de alma contrita, emendar com firme propósito a minha fraqueza.
Fazei-me, ó Deus, humilde sem fingimento; alegre sem dissipação; grave sem depressão; maduro sem severidade; vivaz sem leviandade; veraz sem duplicidade; temente sem desespero; confiante sem presunção; casto sem corrupção; corrigir ao próximo sem indignação e edificá-lo por exemplo e palavra sem exageração; obediente sem contradição; paciente sem murmuração.
Dai-me, dulcíssimo Jesus, um coração desperto, para que nenhuma vã curiosidade o afaste de vós; imóvel, para que não ceda a nenhum afeto indigno; infatigável, para que não sucumba em nenhuma tribulação; livre, para que dele não se apodere nenhum prazer violento; e reto, para que não o faça desviar-se nenhuma má intenção.
Concedei-me, dulcíssimo Deus, inteligência para conhecer-vos; diligência para buscar-vos; sabedoria para encontrar-vos; bondade para agradar-vos; perseverança para esperar-vos doce e fielmente; confiança para alcançar-vos felizmente. Fazei-me, pela penitência, suportar vossas penas; utilizar vossos benefícios nesta vida pela graça; e por fim, na pátria eterna, desfrutar de vossos gozos pela glória.
Vós, que com o Pai e o Espírito Santo viveis e reinais pelos séculos dos séculos. Amém.

sábado, 28 de setembro de 2019

Desejar a tranqüilidade e Pureza do coração

         "Os que viajam sem rumo só conseguem o cansaço da jornada, e jamais o avanço em sua caminkada.” Abade Moisé

         É, portanto, visando à pureza de coração que tudo devemos fazer e desejar. Por ela, é necessário que abracemos a solidão, suportemos os jejuns, as vigílias, os trabalhos, a nudez; que nos dediquemos à leitura e à prática das outras virtudes, tendo como intuito, exclusivamente, conservar nosso coração invulnerável a qualquer paixão, fazendo-o galgar todos esses degraus, até que atinja a perfeição da caridade. E se, impedidos por alguma legítima e indispensável ocupação, não pudermos realizar nosso programa rotineiro, não nos deixemos, por amor a tais observâncias, sucumbir à tristeza, à cólera ou à indignação, porquanto foi no intuito de reduzir tais vícios que teríamos feito o que foi omitido. Por isso, não é tão grande o lucro que nos adviria de um jejum praticado, quanto o prejuízo que sofreríamos com um movimento de ira; nem tão notável o benefício obtido por uma leitura, quanto o dano causado pelo desprezo a um irmão. 
          Convém, portanto, condicionarmos essas práticas secundárias, como jejuns, vigílias, retiros, meditações da Escritura, a nosso escopo primordial, isto é, à pureza de coração, que outra coisa não é, senão a própria caridade. É necessário, pois, não menosprezar, por causa de tais virtudes secundárias, aquela virtude essencial, pela qual, se a mantivermos intacta e íntegra, nada nos poderá prejudicar, mesmo que, por alguma necessidade, tenhamos que negligenciar um ou outro exercício secundário. Uma observância minuciosa de nada nos adiantaria, caso nos deixássemos distanciar de nosso escopo primacial, razão de todos os nossos esforços. 
         Quando um artesão se empenha em obter os instrumentos necessários à sua profissão seria, porventura, tão somente pelo desejo de mantê-los ociosos e sem uso? Ora, a simples posse desse instrumental não lhe traria nenhum proveito, pois é o domínio de seu manuseio que o fará atingir a perfeição em sua arte. Por isso, jejuns, vigílias, meditações sobre a Escritura, nudez, privação completa de recursos não constituem a perfeição, mas são apenas os instrumentos para que possamos adquiri-la. Uma vez que, embora não sejam o fim daquela disciplina, são os meios através dos quais aquele poderá ser alcançado.
         Seria, pois, absolutamente inútil que alguém multiplicasse tais exercícios, e neles fixasse a intenção de seu coração, como se fossem o sumo bem, deixando de aplicar todos os seus esforços naquilo que realmente constitui nosso escopo e por causa do qual exercemos todas essas práticas. Possuiríamos, assim, os instrumentos de nossa arte, mas ignoraríamos o seu fim, no qual se encontra todo o benefício. Tudo quanto possa perturbar a pureza ou a tranqüilidade de nossa alma deveria ser evitado como pernicioso, mesmo que nos pareça de alguma utilidade. Essa norma irá nos permitir escapar à dispersão provocada por pensamentos extravagantes e atingir, de acordo com a direção correta, o fim desejado.

São João Cassiano.
I CONFERÊNCIA DO ABADE MOISÉSÉ: É preciso a tranquilidade do coração. p. 26-28.

Oração - São Tomás de Aquino

Concedei-me, ó Deus onipotente e misericordioso, ardentemente desejar, prudentemente descobrir, verazmente conhecer e perfeitamente real...